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Foto panorâmica antiga, em preto e branco, de homens trabalhando em terreiro forrado de tijolos, com instrumentos nas mãos, movendo grande quantidade de grãos de café. À esquerda, de frente para o grupo, um homem negro, de calça, camisa e chapéu, observa os trabalhos. À direita, uma grande circunferência de alvenaria para recolher grãos de café quando necessário. Ao fundo, palmeiras imperiais e um grande casarão. Sabemos que se trata do terreiro e do casarão da Fazenda do Pinhal.

Sobre

História

A Fazenda do Pinhal está localizada em terras da antiga Sesmaria do Pinhal. Na década de 1780, Carlos Bartholomeo de Arruda (avô do futuro conde do Pinhal) e seu filho, Manoel Joaquim Pinto de Arruda, receberam terras por meio de cartas de sesmaria na região dos Sertões de Araraquara. No entanto, a ocupação efetiva das terras ocorreu apenas anos depois, com outro filho de Carlos Bartholomeo: Carlos José Botelho, conhecido como “Botelhão”.

Foi Carlos José que deu início às atividades econômicas na propriedade, inicialmente com a produção de gêneros alimentícios de subsistência, plantação de cana de açúcar e criação de gado; posteriormente, na década de 1840, plantação de café. Também foi ele quem construiu a casa-sede da Fazenda, nas primeiras décadas do século XIX.

A partir da década de 1850, as plantações de café começaram a se espraiar no interior paulista. Nesse momento, o proprietário da Fazenda do Pinhal era Antonio Carlos de Arruda Botelho (ACAB, filho do “Botelhão”), que se tornaria, anos depois, o conde do Pinhal. Ele era casado com Francisca Theodora Coelho, com quem teve um filho: o futuro médico, agricultor e senador pelo estado de São Paulo, Carlos José Botelho (mesmo nome do avô).

Antonio Carlos, juntamente com irmãos, cunhados e com Jesuíno José Soares de Arruda, foram os principais responsáveis pela fundação da povoação de São Carlos do Pinhal (hoje, cidade de São Carlos): ACAB doou terras (que anteriormente faziam parte da gleba da Fazenda do Pinhal) para a construção da capela; Jesuíno e sua esposa fizeram pedido oficial para essa construção. A família Arruda Botelho doou à capela uma imagem de São Carlos Borromeu, que passou a ser o padroeiro da nova povoação (essa imagem hoje se encontra na capela da Fazenda do Pinhal).

Em 1862, Francisca Theodora, esposa do ACAB, faleceu na Fazenda do Pinhal. No seu inventário, aparecem 60 mil pés de café e 49 escravizados. No ano seguinte, Antonio Carlos se casou com Anna Carolina de Oliveira, filha dos futuros viscondessa e visconde do Rio Claro. Com Anna Carolina, Antonio Carlos teve doze filhos: José Estanislau, Antonio Carlos, Martinho Carlos, Cândida, Eliza, Carlos Augusto, Maria Carlota, Carlos Américo, Sophia, Carlos Amadeo, Anna Carolina e Antonia.

Como mostram as cartas trocadas entre o casal, a esposa Anna Carolina teve papel fundamental na gestão da Fazenda, incluindo o cuidado com a mão de obra escravizada (cada vez mais valorizada, a partir da proibição do tráfico atlântico de africanos, em 1850), pois seu marido Antonio Carlos se ausentava do Pinhal muitas vezes e por longos períodos, para tratar de negócios econômicos ou políticos. Além disso, era ela quem cuidava dos filhos e gerenciava o funcionamento da casa-sede.

O auge do desenvolvimento cafeeiro na região foi o último quartel do século XIX, momento que coincidiu com o final da escravidão no Brasil e com a vinda de muitos imigrantes europeus para o interior paulista, especialmente italianos. Sabemos que Antonio Carlos atuou diretamente nas políticas imigrantistas do período, e que recrutou dezenas de estrangeiros também por meio da Hospedaria dos Imigrantes. Até o momento, nossas pesquisas em registros da Igreja Católica da região permitiram identificar quase 120 famílias de pessoas escravizadas que pertenceram ao conde do Pinhal; além dessas famílias, havia muita gente escravizada que vivia sem a companhia de parentes. Quanto aos imigrantes, os registros da fazenda mostram dezenas de trabalhadores estrangeiros, cujos descendentes têm vindo até nós para deixarem depoimentos e documentos, para fazerem parte da memória da Fazenda do Pinhal.

Nas décadas do final do Oitocentos, ACAB foi responsável pela abertura de várias outras fazendas, tanto na própria região de São Carlos, como também no município de Jaú. Parte do capital adquirido com as atividades agrícolas (principalmente com o café) foi investido em outros negócios: a fundação da Companhia da Estrada de Ferro do Rio Claro, que ligava Rio Claro a São Carlos e Araraquara, com ramal até Jaú; a abertura da Casa Comissária “Arruda Botelho”, em Santos; a participação na fundação do Banco de São Paulo, do Banco União de São Carlos e do Banco de Piracicaba; a compra da Companhia Agrícola, na região de Ribeirão Preto, adquirida de capitalistas fluminenses.

Antonio Carlos ocupou também vários postos influentes, nas esferas local, estadual e nacional. Foi vereador da Câmara municipal de Araraquara (sendo presidente dessa Casa), inspetor de estradas (de terra) entre Araraquara e Rio Claro, juiz municipal de Araraquara, deputado na Assembleia Legislativa provincial de São Paulo, deputado na Câmara dos Deputados (do Império) e senador no Congresso Constituinte do estado de São Paulo (na Primeira República). Foi nomeado coronel comandante superior da Guarda Nacional, foi condecorado com a Ordem da Rosa, e recebeu os títulos de barão, visconde e conde do Pinhal, estas últimas honrarias devido a sua participação na Guerra do Paraguai (pelo envio de alimentos e a manutenção dos caminhos a Mato Grosso). Antonio Carlos faleceu em 1901. No seu inventário, a Fazenda do Pinhal contava com 300 mil pés café e casas para acomodar umas setenta famílias de colonos, mas nessa época ele também plantava café em outras propriedades e municípios paulistas.

Entrado o século XX, e depois da morte de ACAB, os documentos indicam que, aos poucos, a Fazenda do Pinhal se dedicava mais à criação de gado bovino. Sua esposa, Anna Carolina, faleceu em 1945, com mais de cem anos de idade. Em seguida, a Fazenda foi fracionada entre os herdeiros e só foi reunida no final da década de 1970, quando Helena Botelho Vieitas (bisneta de ACAB e Anna Carolina) e seu esposo à época, Modesto Carvalhosa, assumiram a propriedade. Partiu deles a iniciativa para tombar a Fazenda, para torná-la patrimônio. Foi sob a gestão desse casal, também, que tiveram início as visitas guiadas. Helena e Modesto reformaram e cuidaram da Fazenda ao longo de três décadas, usando-a principalmente para o lazer de sua família. Com o tempo, passaram a explorá-la como espaço de eventos e implantaram, inclusive, uma pousada, que funcionou até os primeiros anos do século XXI.

Por volta de 2007, a Fazenda foi comprada por aqueles que são seus atuais proprietários e que, apesar de descenderem do conde do Pinhal, não são mais “Arruda Botelho” e tampouco usam a propriedade como lugar de veraneio. Entre os anos de 2012 e 2015, a Fazenda do Pinhal viveu um intenso processo de restauro, sobretudo na área próxima à sede, sob a responsabilidade dos arquitetos Julio Moraes e Fernando Nociti, com a participação de Carlinhos Bracher. Nessa época, por cerca de uma década, quem cuidou da conservação do Pinhal foi Maria Alice Milliet.

Desde os tempos de Helena e Modesto, e principalmente por conta do livro de Margarida Cintra Gordinho, o Pinhal era conhecido como “Casa do Pinhal”. Mais recentemente, a propriedade vem passando por outra renovação, dessa vez sob o Plano Diretor de Gestão Patrimonial, da autoria do Prof. Paulo Garcez Marins (Museu Paulista/USP), sob a coordenação da Profª Lucília S. Siqueira (Depto.História/Unifesp) e do Instituto Pedra; em síntese, as diretrizes desse plano diretor nos levam a sair da “Casa do Pinhal” em direção à “Fazenda do Pinhal”, incorporando outros agentes e grupos sociais ao passado dessa propriedade rural.

Foto antiga de família, em preto e branco, com as pessoas posando para o fotógrafo. O casal está sentado no centro. Ao lado do pai, à esquerda, dois meninos e três meninas. Atrás do casal, três rapazes. Ao lado da mãe, à direita, três meninas e um menino. Todos vestem roupas típicas da elite do século XIX. Sabemos que se trata de Antonio Carlos de Arruda Botelho e Anna Carolina de Oliveira, conde e condessa do Pinhal, respectivamente, e de seus doze filhos.